Foi uma pesquisa realizada com crianças por estudantes da Pedagogia (ISERJ), no contexto da disciplina Laboratório Pedagógico/ Brinquedoteca em/2020.2, trazendo pequenos relatos fruto de exercícios de escuta sobre o momento de pandemia.
As crianças, parceiras que nos abrem janelas para vislumbrar
o contemporâneo, mergulhadas conosco em nossa barbárie, sinalizam talvez alguma
esperança ao apontar que “O QUE MAIS FALTA
A ELAS NESSE MOMENTO SÃO OS AMIGOS!”
Em que pese o estado
inconstante de nossas relações sociais tratadas como relações de consumo, a
falta dos amigos aparece aqui, talvez ainda mais pelo estado de incerteza que
acomete a todos nós, como uma falta existencial, aquela que faz o menino subir
na árvore para, isolado, poder ver, ainda que de longe, os amigos, como
relatado em uma das conversas.
Crianças. Fonte: <http:// portuguese.alibaba.com>
A tal ponto essa falta se desenha vital que as crianças arriscam,
com a paixão que ainda não cogita remover a incoerência da vida, uma topologia
cujo único ponto fixo e seguro é o outro - o amigo - este com quem vão subir ao céu no caso do amigo também morrer,
uma ideia apresentada por outra criança tentando acalmar a turma. Podem até aceitar as coisas “chatas da
escola” – sem intervalo, a roupa abafada,
muito tempo na cadeira – mas a falta dos amigos não, pois a saudade de abraçar, de estar com eles, é
ainda maior que algumas novidades que gostaram de experimentar como poder ver mais “lives” dos cantores,
aprender muitos jogos, usar qualquer roupa na aula em casa.
Vai passar! É o que se costuma dizer para as crianças... é
também o que nos ensina a consciência histórica.
Criança. Fonte:
<https://pixabay.com/pt/users/terimakasih0-624267/>.
Vai passar, mas estamos dentro, de dentro, entre
melancolias, absurdos e utopias. As crianças também sabem disso e ensaiam
futuros pós-pandêmicos banhados de passado, onde a amizade ganha os contornos
de uma economia solidária: que todo mundo
pudesse tirar o dinheiro, trabalhando e sacando... que todas as crianças
pudessem ganhar brinquedos todos os dias... ganhar dinheiro em casa porque
muita gente perdeu tudo na pandemia... uma ajuda para os trabalhadores
ambulantes que trabalham na rua... que possam ver mais lives dos cantores,
aprender muitos jogos, ter mais tempo livre... matar a saudade de abraçar!
Texto e referência do livro - MUNIZ, Cristina; PEREIRA, Rita
Marisa Ribes; QUEIROZ, Caroline Trapp de. Melancolia
e Amizade: Infância, Alteridade e Tempo Presente. In: GOBBI, Marcia;
TAVARES, Maria Tereza Goudard (org.). Pensar
Infâncias na Cidade em Tempos de Pandemia. 1. ed. Rio de Janeiro: NAU Editora,
2021.