O projeto "Canteiros de Obra”

O projeto Canteiros de Obras UERJ/ FAPERJ/ ISERJ
O projeto Canteiros de obras: crianças e professores construindo ludicamente suas histórias” é fruto de um longo diálogo já existente entre o Grupo de Pesquisa Infância e Cultura Contemporânea, GPPIC* coordenado pela professora Rita Marisa Ribes Pereira, ligado ao Programa de Pós-Graduação em Educação da UERJ, e o Instituto Superior de Educação do Estado do Rio de Janeiro, que acontece sistematicamente desde o ano de 2006*.  Fruto deste diálogo, o projeto nasceu a partir de atividades conjuntas hoje desenvolvidas no Projeto “Criança e Cultura: experiência e criação na contemporaneidade”, financiado pela FAPERJ através do Edital “Jovem Cientista do Nosso Estado”, reunindo atividades que sistematicamente já fazem parte da relação universidade-escola pública recomendada por essa Agência de Fomento. O projeto tem por objetivo contribuir para a organização do trabalho cotidiano que vem sendo desenvolvido pela escola através do Laboratório Lúdico – Brinquedoteca, voltado à qualificação da experiência escolar da passagem das crianças da Educação Infantil para os primeiros anos do Ensino Fundamental, desafio que afeta crianças e professores. O trabalho que vem sendo realizado busca articular, por um lado, a valorização das histórias e da cultura lúdica das crianças e de suas professoras, e, por outro, criar alternativas de trabalho comprometidas com a busca de sentidos compartilhados para a experiência escolar em sua inteireza. Somam-se a este outros objetivos de caráter mais específicos: 
(i) mapear aspectos da cultura lúdica de professores e crianças; 
(ii) promover práticas pedagógicas que levem em consideração a cultura lúdica de crianças e professores; 
(iii) promover situações de intercâmbio da comunidade escolar, buscando colocar em debate a valorização da cultura lúdica – exposições, debates, etc. 
(iv) promover espaços de integração entre professores da Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental; 
(v) manter o diálogo entre a Universidade e a Escola Pública, de modo a contribuir na problematização e sistematização das práticas pedagógicas escolares cotidianas e na formulação de novas questões de pesquisa. Este projeto sustenta-se na premissa de que o diálogo entre a Universidade e a Escola Pública é um princípio político.
Nesse sentido, a metodologia que se mostra pertinente aos objetivos pretendidos é a da pesquisa-intervenção nos moldes apresentados por JOBIM e SOUZA (2008), CASTRO (2008) e MACEDO et alii (2012). A pesquisa-intervenção inscreve-se numa preocupação mais ampla que diz respeito à dimensão política da produção do conhecimento e da articulação dessa produção com a realidade social, ou seja, traz para o centro do debate, em última instância, a relação entre pensamento e ação. Aqui, a palavra intervenção tem por utopia ressurgir sob a força do sentido de interrelação, e na dimensão política que o prefixo inter confere à ideia de ação: intervenção pensada como interação, mas como uma interação que não esconde sua postura propositiva e cobra dos interlocutores – pesquisador e pesquisados – uma implicação. Agir com. Esse agir compartilhado, entretanto, não nasce de forma naturalizada: é uma proposição com autoria – no caso, do pesquisador.
 ***
“Canteiro de Obras”. É dessa forma que, segundo Walter Benjamin (2003, p. 18-19), o mundo físico e social se apresenta às crianças. Para o autor, a terra está repleta dos mais incomparáveis objetos de atenção e exercício infantis, e as crianças são inclinadas de modo especial a procurar todo e qualquer lugar de trabalho onde visivelmente transcorre a atividade sobre as coisas, pois elas se sentem irresistivelmente atraídas pelo resíduo que surge na construção, no trabalho de jardinagem ou doméstico.  Em parte imitando o trabalho dos adultos, em parte criando relações por eles nunca pensadas, a partir desses resíduos, as crianças formam para si um mundo próprio, inserido num mundo maior. Assim se produz, de forma simples e imediata, a relação da criança com a cultura.

A equipe envolvida no projeto é constituída de professores e estudantes da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e do Instituto Superior de Educação do Estado do Rio de Janeiro (ISERJ). São eles: Pesquisadores: Rita Marisa Ribes Pereira – professora da Faculdade de Educação da UERJ – (coordenadora do projeto) e Ligia Maria Leão de Aquino – UERJ – (pesquisadora associada). Estudantes de Pós-Graduação: Nélia Mara Rezende Macedo - Estudante da Pós-Graduação em Educação da UERJ; João Marcelo Lanzillotti – Estudante da Pós-Graduação em Educação da UERJ. Bolsistas (2013-14): Vânia Ramos – Pedagogia/UERJ; Cristiane Chagas – Pedagogia/ISERJ e Yago Correa de Oliveira – Ensino Médio/ISERJ. Professoras da Escola Pública onde o projeto se desenvolve: Maria Cristina Soto Muniz – Coordenadora do Laboratório Lúdico – Brinquedoteca/ISERJ; Núbia de Oliveira Santos – originalmente professora da Educação Infantil//ISERJ, hoje da Pedagogia/UFRJ e Regina Rubleski – Educaçãlo Infantil/ISERJ.

* O Grupo de Pesquisa é Formado por estudantes de graduação e de pós-graduação da UERJ e também por professores que atuam na Educação Básica. Tanto temos tido sistematicamente a presença de professores do ISERJ nas reuniões de pesquisa, como também o ISERJ tem sido campo para alguns projetos de pesquisa.

Referências
BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas vol. II. Rua de mão única. São Paulo: Brasiliense, 2003.
MACEDO, Nélia et alii. Encontrar, compartilhar e transformar: reflexões sobre a pesquisa-intervenção com crianças In: PEREIRA, Rita Marisa Ribes e MACEDO, Nélia Mara Rezende. Infância em pesquisa. Rio de Janeiro: Editora NAU, 2012.
JOBIM E SOUZA, Solange; CASTRO, Lucia Rabello de. Pesquisando com crianças: subjetividade infantil, dialogismo e gênero discursivo. In: CRUZ, Silvia Helena Vieira (org). A criança fala: a escuta de crianças em pesquisa. São Paulo: Cortez Editora, 2008, p. 52-78.
***
CANTEIRO DE OBRAS (Anotações)
PREMISSAS
Crianças são inclinadas a procurar lugares de trabalho onde visivelmente transcorre a sua atividade sobre as coisas.
Crianças sentem atração pelo resíduo da construção a partir do qual – pela imitação e recriação – formam um mundo próprio, isto é, inserem-se na cultura.
No diálogo com a cultura, coexistem a perspectiva infantil (diálogo imediato, pela brincadeira) e a perspectiva que o adulto tem da criança (tradução da cultura numa forma tida como mais compreensível). Um caminho para a superação desse dualismo é a potencialização das contradições entre ambas as perspectivas.
Compreende-se a cultura lúdica (cf. Brougère) em tensão com a cultura escolar e como – para além dos brinquedos e das brincadeiras – o envolvimento com a vida social mediado por uma produção subjetiva, não se restringindo à infância.
Adultos exercem a transposição imaginária do real pelas artes, por exemplo; também possuem impulso lúdico, entendido tão-simplesmente como a realização deliberada de algo sobre o que nos inclinamos.
A infância constitui a vida adulta como memória. (cf. Benjamin)
A ética norteadora da pesquisa concretiza-se pela construção de uma prática pedagógica que faça sentido para quem dela participa.
***
ASPECTOS DA BRINQUEDOTECA / DO BRINCAR
1.     facilita uma educação emancipatória
2.     questiona categorias do sistema educativo convencional como a funcionalidade
3.     multiplica pontos de vista (vê a criança por trás do aluno) / problematiza a questão da alteridade
4.     promove o encontro das artes / produz cultura / introduz relação ativa da criança
5.     baseia-se em signos, faz a criança dialogar com o seu meio / possui eficácia simbólica, conteúdo imaginário
6.     mistura materiais / mimetiza e transforma a realidade em brinquedos / permite que a criança manipule a realidade
7.     possibilita conhecimento, rememoração e significação pela criança por gestos, lugares (esconderijos), repetições (rituais), fantasias (personagens) / no jogo ou encenação: libertação radical x treinamento educativo / ação política entusiasmada
8.     demonstra um impulso mimético e o prazer da dissolução, de aniquilamento dos limites (cf. Winnicott: “caráter assustador do brincar”) / dimensiona o pensar, a aproximação não violenta sem regulação ou dominação (cf. Gagnebin)
9.     expressa um pensamento sensual
1.  desenvolve capacidade de representação (cf. Vygotsky) a partir do gesto em direção à escrita


Outras referências
BENJAMIN, Walter. Reflexões: a criança, o brinquedo e a educação. Trad. Marcus Vinicius Mazzari. São Paulo: Duas Cidades, Ed.34, 2002.   
___________. Passagens. Trad. Cleonice Paes Barreto Mourão e Irene Aron. Organização de Willi Bolle. Belo Horizonte: UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial Estado de São Paulo, 2009.
BROUGÈRE, Gilles. Jogo e educação. Porto Alegre: Artes Médicas,1998.
________________. Brinquedo e cultura. São Paulo: Cortez, 1997
________________. Brinquedos e companhia. São Paulo: Cortez, 2004.
GAGNEBIN, Jean Marie. “O método desviante”. Disponível em http://www.revistatropico.com.br/tropico/html/textos/2807,1.shl. Publicado em 3/12/2006. Último acesso: 24 de abril de 2016.
VIGOTSKI, Lev Semionovich. Imaginação e criação na infância. Trad. Zoia Prestes. São Paulo: Ática, 2009.

*** 
Projeto Canteiros 2015-16
Qual o lugar da infância e da ludicidade na escola?
Especificamente, a partir da observação participante no pátio de recreio (o lugar do lúdico na escola) dos anos iniciais da Educação Fundamental, no Instituto de Educação do Rio de Janeiro (Iserj), ao longo de 06 (seis) meses, destacar manifestações da perspectiva infantil pela corporalidade (embodiment) (cf. Viveiros de Castro), e pela linguagem gestual, para a compreensão de uma perspectiva “ignorante” na educação (cf. Jacques Rancière). Em suma, as observações procuram abordar a pedagogia como um fazer formativo, que se projeta para uma presença material ou simbólica, geradora de imagens, ou - mais simplesmente - como uma prática poética.
Referências complementares
-->
RANCIÈRE, Jacques. O mestre ignorante. Cinco lições sobre a emancipação intelectual. Trad. Lilian do Valle. BH: Autêntica, 2002.
-->
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. A Inconstância da Alma Selvagem e Outros Ensaios de Antropologia. São Paulo: Cosac & Naify, 2002.

***
EXERCÍCIO DA OBSERVAÇÃO ATENTA (cf. Winnicott; Benjamin)

Pela prática da pesquisa-intervenção, na relação entre pensamento e ação, privilegia-se a intervenção propositiva sobre a impositiva. Consolida-se assim um outro tipo de relação com crianças e professores, que não corresponde apenas à relação definida pelo aprender e o ensinar.
Alguns modos de observação atenta são:
-       a participação na brincadeira
-       a experiência do olhar (flanador)
-       o compartilhamento de sentimentos, registros e observações
-       a tentativa de outras formas de conhecer
-       a ação mediadora de conflitos, para permissão
-       a organização e cuidado com espaço, com brinquedos e com “combinados”

Cf. Observação no recreio dos primeiros anos do Ensino Fundamental (ProjetoCanteiros/Iserj-2016): Registro1; Registro2
 

3 comentários:

Unknown disse...

Parabéns ISERJ.

O projeto é maravilhoso, principlmente para as crianças que estão em desenvolvimento. Nessa face
o brincar é essencial,para interação
com os coleguinhas.

Amei o projeto.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Foi maravilhoso participar do Projeto em 2015. Estou ansioso por 2016, muitas ideias e vontade de colaborar para que tudo aconteça da melhor forma para a garotada.