terça-feira, 28 de março de 2017

Projeto Canteiros 2016 - Observações no recreio1

29 de março (Relato Bia Albernaz)
Estou sentada e tiro fotos do bebedouro, do outro lado do pátio. Chega F. [3o ano, turma 302]. E puxa conversa. Interessa-se pela câmera e pergunta o que estou fazendo. "Uma pesquisa sobre o recreio", respondo. "Preciso tirar fotos. Você quer tirar?" A máquina chama atenção. Entreguei o objeto aos sujeitos da pesquisa. Com as mãos livres, abri meu caderno e passei a anotar. A máquina ficaria nas mãos das crianças. Daqui em diante, as fotos serão das crianças, mas é muito difícil identificar a autoria. No meu relatório estão anotados os nomes e uma provável identificação da foto. Estamos no recreio.

Bebedouro: lugar de encontro e conversas
Vendo F., outros alunos saem correndo da sala que dá direto para o pátio de recreio e aí se instaura um pequeno caos. Me rodeiam, também querem tirar foto. Da porta, a professora chama todo mundo de volta. Desligo a câmera mas, num gesto realmente rápido, uma menina conseguiu ligá-la novamente. Impressionante, ela acertou o botão de cara, e imediatamente tirou uma foto com a máquina ainda pendurada no meu pescoço.
F. e outro menino ficam. Sento-me em um banco afastado da sala de aula e eles vêm conversar. Dizem que gostam de brincar de pique e de futebol. Pergunto sobre onde jogam futebol. F. mostra as marcas de bola na parede. Perguntei sobre a bola. Se eles levam ou é da escola. “A gente joga com qualquer coisa. Inventa a bola até com chapinha.”, ele diz. “Garrafinha de água mineral”, o outro completa. “Até potinhos de iogurte?”, eu perguntei. Eles confirmam. “Cheios?” pergunto de brincadeira. Fabrício conta que uma vez acertou a porta da sala e mostra um fio arrebentado por ele acima do banco onde estou em um chute a gol. Perguntei se ele gostava de destruir coisas. “Eu gosto de futebol.” Os dois me mostram uma parede cheia de marcas. “Então aí é o gol?” 
Bate o sino [ou a campainha?] e logo, da porta em frente, reaparecem as crianças. Umas gritam, correm, outras chegam devagar. Meninas brincam de bater as mãos, coreograficamente, enquanto cantam: Bola de fogo que mata geral. Pá Pum Tcham. Feliz natal no seu quintal!

Realmente o futebol atrai bastante. A corda também. Quando as crianças tiram foto, logo vem as poses. O livro que abre como um palácio em pop-up também atrai.
  

 Tem um menino só, agarrado a um poste azul. Aos poucos, ele se desagarra e lentamente se aproxima das meninas que pulam corda. Ronda-as e passa pela minha frente. Pergunto: "Você também é do 3o ano?" "Não, sou da manhã. Sou depois, sou do 5o ano." [Está ali fazendo aulas de apoio.] Ele achou um pedaço enorme de tijolo e joga amarelinha com ele. 
Quase todos os meninos jogam futebol. Vejo-os de longe. Quando percebo, tem um menino bem na minha frente. Pergunto se ele não gosta de futebol, pois mais uma bola chegou nas mãos de uns meninos que passam mais atrás. Ele começa a tremer, cai no chão e estrebucha: "Não fala de futebol que eu infarto". 
 
Lanço um desafio para quem quer tirar fotos: fotografar quem não esteja percebendo, que não seja uma foto posada.    
 Meninas brigam para decidir quem vai bater a corda. Meninos zanzam pelo pátio.  Acontece um cabo de força entre as meninas. Agora ninguém quer mais bater a corda. Só querem pular. Os meninos pegam na corda e começam a bater forte e outros pulam. No final de uma rodada, os que batem “amarram” os que pularam. 

Toca o sino. Final de recreio. Os pombos se divertem com o resto dos biscoitos.

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