segunda-feira, 27 de março de 2017

Ainda sobre a mala do recreio: que brinquedo levar? A corda vai!

Que brinquedo levar?
Relato de Alê (mediador brincante) ao arrumar a Mala de Recreio
com os brinquedos do acervo da Brinquedoteca
. . . Ainda na Brinquedoteca, eu e minha coordenadora revisamos a mala, ela querendo tirar um pouco dos brinquedos selecionados e eu defendendo cada um deles, sem nenhum argumento plausível. Eu apenas dizia: "Esse fica!". Depois de algum tempo, ela vem com mais uma boneca para a mala, que já estava abarrotada. Não cabe a boneca. Sempre que eu ponho os brinquedos na mala fico imaginando que serventia eles terão para a criançada, que grupo etário vai brincar com ele ou que grupo vai rejeitá-lo. Embora saiba que “não é o brinquedo que determina a brincadeira” (cf.Benjamin), eu, o adulto, impregnado de conceitos prévios, instantaneamente, busco uma função para o brinquedo que escolho levar. Penso que, assim como fazemos nas escolhas dos brinquedos, levamos esse nosso hábito pedagógico para a sala de aula e todas as demais atividades com que nos relacionamos com crianças. Levamos o hábito de escolher o que é certo para a criança. Pensamos em conteúdos a partir do nosso ponto-de-vista. Nesses 21 anos de contato com o magistério nunca fui a uma reunião de planejamento com a participação de alunos ou com dados, sugestões ou reclamações desses alunos.   
***
Ao cruzar o muro (das lamentações das crianças) que separa o parquinho da Educação Infantil da área do recreio dos Anos Iniciais, imediatamente ouço uma que exclama: “Olha a mala!” E logo outra que grita: “Tem corda!”

A corda sempre vai.
 A corda que enrosca, enforca, engata e ensina. 
 É força, coragem, resistência, reunião. A corda nos acorda, nos faz entrar em acordo. Com ela, se amarra ou se puxa.
                  Assim como a roda e a escrita, a corda é uma das grandes invenções humanas. Sem ela, seria impossível capturar e domesticar animais, navegar, transportar mercadorias ou levantar pesos. A arte da cordoaria tem cerca de 20mil anos e, com tempo, se tornou muito importante e cada vez mais sofisticada.
                  As cordas podem ser torcidas ou trançadas e, antigamente, eram feitas de cânhamo. Mas depois a fibra de coco, o sisal, o algodão, a seda e inúmeros materiais orgânicos e sintéticos foram usados para fazê-las mais resistentes e adaptadas a fins específicos.
                  A linguagem do corpo nas brincadeiras de corda é vigorosa, rítmica, difícil de ser traduzida para a escrita. A lição básica que fica é: ofereça cordas para as crianças, ensine brincadeiras esquecidas, permita que se inventem outras. Entre o brincar, o se exercitar e o trabalhar, a corda tem história, técnica, ciência, e também pulsão, emoção e arte. Há muitos, muitos nós a aprender!

 
Sites com brincadeiras de corda

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